Por Martins Denis
Todo lutador que entra no octógono possui uma questão particular dentro da sua cabeça e ainda que o objetivo de todos seja a vitória e o título, cada atleta tem a sua própria fórmula de fazer isso.
Às vezes, lutadores mudam suas equipes e até suas categorias para se estabelecer na luta pelo título e, ainda que não seja uma regra, mais e mais atletas optaram por aquilo que, no ano passado, seria um grande sacrifício - a luta contra a balança.
Alessio "Legionarius" Sakara, o italiano que enfrenta James Irvin no UFC - Vera vs. Jones do dia 21 de março, seguiu essa linha da mudança de equipe e peso. Lutando pela terceira vez como peso médio - depois de sete anos de peso leve e alguns de um pesado "leve" no início da sua carreira - e se unindo ao American Top Team, depois de ter sido membro do Brazil Dojo e Team Nogueira, Sakara abandonou as performances inconstantes da sua época de meio pesado.
"Como membro do ATT, me sinto mais como um lutador de MMA do que apenas um boxeador talentoso dentro do octógono. Eu treino para ser o lutador mais competitivo possível e isso produziu resultados como as pessoas viram com meus chutes altos", disse Sakara, se referindo ao seu nocaute espetacular sobre Joe Vedepo na sua segunda luta no médio em setembro de 2008. "Eu tenho todos os tipos de grandes treinadores para explorar o potencial que antes estava adormecido".
Durante a sua primeira luta no peso médio, contra Chris Leben, em março de 2008 (uma derrota por nocaute no primeiro round), suas mãos não estiveram pesadas como de costume, e na luta seguinte contra Vedepo elas não foram necessárias, pois os chutes altos definiram a luta. Mas para um boxeador nato como Sakara, a importância de usar seus punhos com poder e destreza são essenciais para um caminho de sucesso, especialmente em uma categoria onde todos os seus competidores têm suas habilidades bem afiadas.
"A força que eu tinha como pesado é o que eu procuro para um peso médio", disse ele. "Eu tenho que bater mais forte nessa nova categoria e estou trabalhando para isso. Mas agora também tento lutar com inteligência, estratégia e um plano de jogo, não apenas como um maluco".
A sua mudança mental fica aparente quando você nota a diferença do Sakara da primeira luta no octógono contra Ron Faircloth no UFC 55 em 2005, para o Sakara visto no UFC 101 em agosto do ano passado. E ainda que ele tenha parecido mais hesitante do que o normal na luta contra o ex-desafiante do médio, Thales Leites, na sua última luta, Sakara reitera que ele deseja ser um atleta focado no MMA, diferente do cara que perdeu lutas consecutivas para Dean Lister e Drew McFedries em 2006.
"Thales foi o único cara que ficou dentro do octógono com Anderson Silva por 25 minutos. Além disso, aquele foi o estágio mais difícil da minha carreira no UFC, pois meu filho tinha nascido em julho na Itália. Eu estava muito feliz, mas imagina estar em outro país (quando seu filho nasce) como eu estava nos EUA. Minha cabeça não estava 100% na luta. Mas eu lutei de forma estratégica e isso é parte de ter um plano e lutar com inteligência".
Mas os fãs não precisam se preocupar que a estratégia e a atenção de Sakara possam fazê-lo esquecer de eletrizar a platéia. Ele ainda é o mesmo cara que venceu o campeão brasileiro do K-1 Brasil, Eduardo Maiorino, em 30 segundos e forçou o ex-peso pesado do UFC, Assuério Silva, a levar a luta para chão por conta dos golpes que estava levando no corpo. Em outras palavras, Sakara não perdeu sua habilidade ou desejo de acabar com os outros.
"Eu treinei muito para essa luta (contra Irvin) e o nocaute é sempre uma questão de fazer as coisas de forma correta. Eu não quero ser considerado um lutador chato; eu treino para ter grandes lutas e tudo isso acontecerá naturalmente".
Mesmo com todas essas mudanças no trabalho e na vida pessoal, Sakara ainda tem mais barreiras para quebrar e espera iniciar uma sequência de vitórias que coloque qualquer lutador no topo. E com duas já nas costas, sobre Thales e Vedepo, tudo o que o italiano de 28 anos quer é manter o ritmo.
"Eu estou com 3-1 desde que entrei no ATT. O problema é que antes eu não possuía uma equipe atrás de mim, mas agora estou bem relaxado. Eu tenho uma academia em Roma e comecei a trabalhar na TV italiana fazendo programas sobre MMA, então tenho estado bastante ocupado. Mas como tenho a ATT para cuidar de mim, aprendi a ter tempo para tudo e sinto que isso faz a diferença".
Ao encarar Irvin (14-5-1), que irá lutar pela primeira vez na categoria média, Sakara não acredita que a recente alteração de peso do seu adversário seja um fator a seu favor. Ao contrário, ele primeiro prefere eliminar a vantagem do alcance e a força do nocauteador, e depois impor seu jogo e conquistar sua terceira vitória seguida.
"Eu sei que perder peso pela primeira vez para uma nova categoria é difícil, mas cada lutador reage de uma forma diferente - ele pode sofrer ou não", disse Sakara. "Eu estarei pronto para qualquer coisa. Eu estou aqui para mostrar um grande trio em um único lutador: um Sakara experiente com poder de nocaute, um Sakara agressivo e um Sakara técnico, tudo ao mesmo tempo. Eu tenho tentado fazer isso desde o meu início no UFC, mas nas minhas derrotas aprendi onde deveria melhorar. Agora, com uma grande equipe, isso se tornou mais fácil e mesmo nas derrotas tive vontade de adicionar coisas que me fariam um lutador melhor. Irvin será um teste para tudo isso".