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Renzo Gracie - Um 'iniciante tardio' faz sua estreia no UFC

Por Thomas Gerbasi   

   

Com uma vida de memórias dentro e fora do ringue, incluindo vitórias sobre quatro campeões do UFC, Renzo Gracie poderia ter escolhido qualquer foto para colocar na sua academia de Jiu-Jitsu em Nova York. Mas a única imagem na parede, aquela que ele vê toda vez que passa pela porta, é, talvez, a da sua maior derrota - a finalização técnica que sofreu de Kazushi Sakuraba na luta de 2000 no PRIDE, no Japão.     

   

'Técnica' é a palavra principal aqui, pois Renzo não se rendeu naquela noite em Saitama, apesar de um deslocamento feio no cotovelo. E esse é Renzo Gracie.     

   

"Quando você vence, é fácil esquecer todo o trabalho duro que você passou para conquistar a vitória", Renzo disse. "Você fica tão feliz com a vitória e com as pessoas ao seu redor te parabenizando e te abraçando, você acaba esquecendo todos os erros que cometeu durante aquela luta. Mas quando você perde, você os reconhece e nunca os esquece. Então eu fiz questão de colocar essa foto aqui, e ela é a única que eu tenho aqui, para me lembrar sempre que uma luta só termina quando o sino toca e o árbitro separa os dois lutadores. Toda vez que eu entro aqui, vejo essa foto e lembro que não sou perfeito. Eu preciso melhorar sempre".   

   

Para os fãs de longa data deste esporte, é uma história que fica no topo da lista quando se trata de força, coração, determinação e qualquer outro adjetivo que você possa pensar para descrever um lutador que ainda trata o tempo entre as cordas ou no octógono como uma luta. Renzo Gracie é aquele lutador e hoje, quase dez anos depois, ele ainda lembra todos os detalhes daquele embate.     

   

"Faltavam 17 segundos para o round terminar e eu cometi aquele erro. Logo perdi meu equilíbrio e começamos a girar. Eu senti meus ligamentos rompendo e o cotovelo saindo do lugar. Eu me lembro do Sakuraba olhando para o árbitro e provavelmente dizendo em japonês 'está quebrado'. E eu lá tentando sacudir e colocá-lo no lugar, tentando ver se ele voltava sozinho, mas o Sakuraba estava me segurando e o braço não voltava".   

   

O árbitro encerrou a luta com apenas alguns segundos faltando para o round número dois. Sete meses depois, Renzo voltava à ação contra Dan Henderson e, para ele, era apenas mais uma luta. Ele não se sentia assombrado pela lesão, nem mentalmente assustado. Renzo é um lutador e lutadores lutam.     

   

Em 2007, no entanto, Renzo estava pronto para mais um capítulo da sua vida depois de competir como um atleta de MMA desde os primeiros dias do Vale Tudo em 1992. Ele vinha de três vitórias consecutivas sobre ex-campeões do UFC, Pat Miletich, Carlos Newton, e Frank Shamrock, e o momento era o certo para focar nos seus negócios.     

   

"Há quase três anos eu não fazia um abdominal", ele ri. "Eu sentei no meu sofá e estruturei todos os meus negócios e tudo estava ótimo. Mesmo com a economia em um período mais difícil, eu consegui manter o crescimento da minha escola. Nós hoje temos 1.100 alunos na minha escola em Nova York. Nós já temos três filiais e tudo está indo para frente".     

   

Então com o negócio a todo vapor, a vida em família indo bem, e um legado no esporte já construído, essa seria a hora certa desse cara, nos seus 40 e poucos anos, sentar e aproveitar todos os frutos do seu trabalho. Mas esse não é o caso de Renzo Gracie, e quando começaram os burburinhos sobre o UFC organizar um evento em Abu Dhabi, um lugar que ele visita sempre e espalha seus conhecimentos sobre o Jiu-Jitsu, logo surgiu o rumor de que Renzo faria seu retorno no UFC 112.     

   

"Eu achei que eu fosse relaxar, mas eles me fizeram uma oferta e eu não pude recusar", ele sorri.     

   

Por isso, sábado em Abu Dhabi, Renzo Gracie fará sua estreia no UFC depois de anos. Se você está dizendo 'finalmente', você não está sozinho.     

   

"Estou ouvindo isso de muitas pessoas que chegam e dizem, 'cara, finalmente você vai pro UFC'", ele diz. "Eu disse a eles que era um 'iniciante tardio'. Eu sempre soube que acabaria no UFC. Lorenzo e Frank (Fertitta) me convidaram antes, mas não poderia voltar naquela época, pois o dinheiro ainda não estava lá e eu estava fazendo um bom dinheiro no PRIDE, no Japão. Eu estava construindo a estrutura que desfruto hoje e precisava de dinheiro para fazer isso. Mas eu sabia que iria lutar no UFC, ainda que fosse de graça".   

   

Felizmente, Renzo não irá lutar de graça no sábado, mas ele certamente merecerá seu pagamento ao encarar a lenda do meio-médio Matt Hughes. Essa é uma das mais esperadas lutas do card do UFC e ninguém a espera mais do que o carioca Renzo.     

   

"Uma das condições para que eu voltasse a lutar era enfrentar lutadores de verdade, os mais difíceis. Eles me ofereceram Matt Hughes e eu não poderia ficar mais satisfeito. Eu acredito que só é possível fazer história se você luta contra pessoas que o ajudarão a fazer história. Matt Hughes tem todas essas qualidades - ele é um campeão inacreditável, um dos mais dominantes meio-médios que eu já vi na vida; é um cara que eu tive a chance de acompanhar desde o começo, quando ele era apenas um wrestler, e eu tive a oportunidade de ver como ele se transformou em um lutador de MMA e se tornou esse campeão incrível que dominou a categoria por muitos anos. Eu me sinto orgulhoso e honrado de lutar contra ele".    

   

E assim que Renzo assinou o contrato, a única coisa que faltava era voltar a entrar em forma. Ele admite que teve de perder 12 quilos em três meses e meio para entrar no limite de peso para competir na categoria. No caso dos treinos, ele não pode reclamar, já que caras como Georges St-Pierre, Kenny Florian, Ricardo 'Cachorrão' Almeida e Frankie Edgar têm aparecido para treinar com ele em sua academia.     

   

É claro que a o assunto idade será trazido para luta, com Renzo tendo completado 43 anos em março, mas considerando que ele vem de três vitórias consecutivas, seus treinamentos, seu nível de atividade (Renzo não é exatamente um cara de 43 anos quando se trata de estar em forma), ele não deveria se preocupar com os golpes que normalmente atacam caras dessa idade. Ele acredita que seu sucesso será creditado a algo completamente diferente.      

   

"Eu acredito na paixão pelo que faço. Acredito no que faço - isso é que faz a diferença. Muitos fazem porque querem ficar famosos ou porque querem o dinheiro, mas quaisquer outras dessas razões fúteis caem quando você entra para lutar. Eu faço porque eu tenho muito amor por esse esporte e acredito que posso trazer algo bom para ele. Eu consigo ver meu filho lutando um dia, meus netos lutando um dia, e esse é o caminho que eu escolhi para a minha família e para mim, pela vida inteira.     

   

"E quando eu entro no ringue, eu não estou apenas pensando em vencer. Eu penso também em melhorar, não apenas como lutador, mas como ser humano", ele continua. "Isso me faz ter um desempenho melhor do que os outros caras que vão até lá apenas para ganhar mais dinheiro. Hoje eu tenho dinheiro suficiente, caso eu queira abandonar isso tudo e apenas viver bem. Eu posso fazer isso, pois estou em uma situação privilegiada e a vida tem sido bastante generosa comigo. Eu não preciso de dinheiro para ir lá e lutar".     

   

Renzo também quer trazer a história de volta ao esporte, que anda tão rápido que as pessoas esquecem o que aconteceu há 10, 15 anos. Existem alguns fãs que pensam que Forrest Griffin e Stephan Bonnar inventaram o esporte com a sua clássica final do Ultimate Fighter em 2005, e ainda que aquela luta tenha iniciado a explosão do UFC, existem aqueles como Renzo que prepararam o terreno para os lutadores que surgiram no esporte, e o seu retorno é uma lembrança e uma homenagem para pioneiros do MMA como ele.     

   

"Muitos dos garotos lutando hoje possuem uma história de três ou quatro anos, alguns com cinco anos", Renzo disse. "Na verdade, eles nem sabem de onde vieram. Eles não sabem como foi difícil plantar a semente desse esporte na cabeça das pessoas em um nível nacional e como é difícil fazer do esporte o que ele é hoje. Eu acredito que caras como eu, Couture e Royce (Gracie) trazemos a história de volta. E ao trazer de volta, damos um passado às crianças, e essa é uma das principais razões pelas quais estou voltando. Eu quero que a nova geração entenda o que é Gracie. Eu não ligo para o Renzo. Quero que eles esqueçam meu primeiro nome, mas quero que lembrem meu sobrenome por muitas gerações".   

   

Mas no final das contas, não é apenas uma viagem pela memória para o Gracie. Se a sua carreira for alguma indicação, não existem atalhos e oponentes fáceis, e se ele diz que irá fazer algo, será com velocidade total. Então você pode esperar que sábado não será a última vez que você verá Renzo Gracie no octógono do UFC.     

   

"Quando eles me ofereceram um contrato de três lutas, eu perguntei, 'vamos fazer isso melhor - vamos fazer um contrato de seis lutas e vocês podem me demitir no momento que quiserem'", ele disse. "A verdade é que se eu não for bem, se eu não estiver no jogo, apenas me demita e eu estarei bem. É assim que eu penso. Eu sou o tipo do cara que se tivesse que morrer, mergulharia de cabeça primeiro".