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O longo caminho de Fabrício "Morango" Camões até Vegas

No mundo das lutas, um lugar onde estamos acostumados a ouvir apelidos como 'The Dragon', 'The Hammer', 'The Huntington Beach Bad Boy', 'Pitbull', entre outros, a palavra dureza tem uma combinação perfeita com cada um dos apelidos citados. Então quando alguém conhecido pelo vulgo de 'Morango' vem lutar no UFC, você deve imaginar que isso é um tanto estranho para um homem, que tem como foco principal dar cabo do oponente seja por nocaute ou finalização, possuir um apelido tão delicado como esse.   

Para o estreante no UFC, Fabrício Camões, o Morango, que enfrenta a estrela japonesa Caol Uno em um das lutas preliminares do UFC 106 em Las Vegas, NV, ter um apelido que não mostra o quão casca-grossa ele é, é mais um obstáculo a ser superado, já que ele precisa mostrar que apelidos não são tudo.   

 

"No Brasil é muito comum ter apelidos estranhos, e quando você vive no subúrbio eles são piores", ele disse. "Eu gostava demais de iogurte de morango e toda vez que eu estava com meus amigos eu estava bebendo isso, então o apelido veio facilmente. No meu caso é muito importante ser um bom lutador quando você tem um apelido incomum como esse".   

 

 Da época que o apelido foi sugerido, quando ele tinha entre oito e nove anos de idade, até os dias de hoje, Morango - um faixa-preta formado por Royler Gracie e Vini Aieta - foi cercado de momentos engraçados. O carioca teve que lidar com muitas situações em sua terra natal devido ao apelido, mas nenhuma comparável a que ele passou quando se mudou para os EUA.   

 

"Um dia eu estava treinando e um dos meus parceiros de treino virou para mim e perguntou, sabendo das minhas credenciais como lutador, ele mandou: 'Morango quer dizer Assassino Brasileiro ou Matador?' Eu então disse à ele o significado, ele olhou sério para mim e depois de uma pausa comentou que o gosto do morango no Brasil deve ser muito diferente do morango americano (risos)".   

 

Dois anos depois de começar no jiu-jistu, lá estava Morango conseguindo uma luta de ValeTudo para estrear. Ainda menor de idade, o garoto não tinha idéia do inferno que estaria por vir. Um torneio de duas lutas na noite em um evento em Campo Grande-MS, se isso não era o bastante, adicione o fato de Morango ter que viajar 20 horas de ônibus até o Centro-Oeste. Não parece o bastante ainda? Somente o vencedor do torneio seria pago, 1000 reais, agora sim, isso é que é desafio. Mas calma aí, ainda tem mais (e é o pior!), com apenas 73 quilos a única vaga era no torneio até 80kg, onde o campeão da última edição estava defendendo seu cinturão, e o sujeito era nada mais nada menos do que Anderson Silva, sem luvas e com três rounds de 10 minutos cada. Ufa! Agora acabou.       

 

"Nós fomos (o veterano do Pride Cristiano Marcello e Morango) convidados para o evento, 'as boas novas' vieram quando chegamos lá", ele diz rindo. "Depois de convencer o promotor que eu tinha autorização dos pais e do meu professor para lutar eu falei com o Cristiano que a gente deveria dar nosso máximo, porque essa era a única forma que teríamos para voltar ao Rio de Janeiro de avião e não de ônibus de novo (risos). A minha primeira luta foi contra um aluno do Jose "Pele" Landi-Johns, o Eliezer Ninja, eu bati ele e avancei para as finais contra o Anderson, que tinha dizimado o primeiro adversário dele. O combate durou 27 minutos e foi uma guerra. Ele me derrotou quando eu não esbocei mais reações diante dos ataques devido ao cansaço.    

 

Eu não me arrependo de nada. Foi demais estrear naquela situação e enfrentar um campeão como o Anderson, que se tornou um amigo depois de tudo. Eu faria novamente se tivesse as mesmas chances. No fim, o Cristiano ganhou o torneio até 70kg e me deu metade do prêmio em dinheiro, assim voltamos de avião para o Rio".   

 

Depois desse torneio, Morango optou pela categoria meio-média, onde colecionou um recorde pouco brilhante de 4-4 e enfrentou o pior estágio de sua carreira. Quando contundiu o joelho e ficou afastado das lutas por mais de 12 meses.   

 

"Eu acredito que todos os lutadores já passaram por momentos de extrema dificuldade, a forma que você enfrenta eles é que te faz mais completo", ele disse. "Mesmo quando eu contundi meu joelho e perdi aquela luta, eu nunca dei desculpas. Esta é minha filosofia, superar adversidades. Minha carreira no MMA começou sem treino específico, sem manager, lutando em classes de peso mais pesadas e eu acreditei que cedo ou tarde eu conseguiria meu lugar ao sol e as premiações em dinheiro que o profissionalismo tem, e isso eu consegui quando lutei o Super Challenge em São Paulo.     

 

 O evento que Morango falou a respeito foi um grandioso show de MMA no Brasil repleto de lutadores top até 73kg em uma competição com formato de torneio. Inicialmente Morango não estava confirmado no evento e ele não dava  muita atenção ao torneio de 8 lutadores onde estavam os melhores, principalmente porque ele nunca havia lutado com 73kg. Entretanto, quando um dos participantes se machucou nos treinos, ele recebeu uma ligação de última hora e iniciou a caminhada até a glória em sua vida. Despachar três adversários em uma noite cheia de lutadores do mais alto nível é uma certeza de saltos mais altos na carreira. Porém não aconteceu tão rápido para o penta campeão carioca de jiu-jitsu, que teve que esperar quase dois anos até sua estréia em solo americano em 2008.      

 

"Foi uma longa espera e tudo aconteceu depois que meus managers, Ed Soares e Jorge Guimarães, me convidaram para vir morar em San Diego. É claro que eu esperava lutar no UFC ou no Pride depois do Super Challenge, mas inexplicavelmente isso não foi nem ao menos cogitado", Morango disse. "A oportunidade no UFC foi muito aguardada! Eu precisava lutar contras os melhores no melhor lugar. Lutar em outros eventos me preparou para essa luta contra o Uno no próximo sábado, bem como os treinos que tenho tido com caras como Diego Sanchez, Jeremy Stephens, Hermes Franca, Dominick Cruz, Brandon Vera, Rani Yahya, Joe Duarte e Xande Ribeiro".      

 

Uno, um Ás japonês com 13 anos de históriano MMA e um recorde de 25-12-4, é o teste que Morango sempre quis ter. Considerado um dos melhores pesos-leves produzidos no Japão, Uno vem lutar sedento por uma vitória, já que saiu derrotado em seu último compromisso diante de Spencer Fisher no UFC 99 de julho, em Colônia na Alemanha. Para o brasileiro, que vem de sete vitórias seguidas, quanto mais difícil melhor.   

 

"Enfrentá-lo será algo muito natural para mim", ele disse quando perguntado sobre enfrentar um lutador de elite. "Essa é a chance da minha vida, é o que eu sempre sonhei. Eu acredito que o UFC é uma resposta para todo o sangue e suor derramados nos treinamentos. Eu estou no melhor da minha forma, minha técnica está na ponta dos cascos e o treinamento fluindo de forma soberba. Eu sei que ele é mais experiente, mas ele não tem idéia de onde eu vim, e pelo que passei até chegar aqui (no UFC). Então espero que ele venha preparado, porque a chapa vai esquentar".   

     

Para os fãs brasileiros, que constantemente estão reclamando que os pesos-leves do Brasil são bons, mas não o suficiente para disputar o cinturão, Morango têm uma análise bem particular a respeito da complicada categoria leve do UFC.   

    

"Todos eles tem qualidades, o Brasil é muito bem representado", ele disse. "A divisão até 70kg tem uma infinidade de desafios, então sua caminhada até uma luta pelo cinturão é longa. Eu estou entrando no UFC para me testar, eu não posso pensar em cinturão antes da minha estréia, eu quero me testar contra os melhores primeiro.E antes que as pessoas falem mal de qualquer lutador, lembrem-se, nosso país (o Brasil) não reconhece nosso esporte como deveria, então nossa tarefa é mais árdua, porque não temos o mínimo de suporte"